Na era das redes sociais e da hiperconexão, o velho questionamento existencial “Quem sou eu?” deu lugar a uma dinâmica muito mais ativa e criativa: “Que história estou narrando e qual personagem estou interpretando?” e por isso o assunto desse conteúdo irá abordar o storytelling como uma macrotendência.
A identidade humana, antes vista como algo estático ou essencial, agora é fluida e construída a partir de narrativas que moldamos diariamente.
As tão faladas mudanças trazidas pela GEN Z, se tornam fato. Deixamos de apenas consumir histórias contadas por marcas e produtos; passamos a protagonizar e co-criar produtos, experiências e interações como ferramentas para compor nossas próprias narrativas e construir nossa identidade.
Esse cenário põe marcas que ainda não se adaptaram contra parede.
Vamos aos tópicos do texto:
- Interesse do público-alvo: um aspecto que não dá mais para ignorar
- O consumo como ferramenta de construção identitária
- Storytelling x Storyselling: o equilíbrio estratégico
- Narrativas e as redes sociais
- Sociedade do storytelling
Tenha ótimos insights com a leitura!

Interesse do público-alvo: um aspecto que não dá mais para ignorar
Para que uma marca permaneça relevante nesse universo, é preciso partir daquilo que move o público: seus interesses, aspirações e narrativas pessoais.
O consumo deixou de ser apenas uma transação econômica; ele se tornou uma transação simbólica. Os produtos não são comprados apenas por sua funcionalidade, mas pelo que representam na vida do consumidor.
O moletom de uma marca de streetwear, por exemplo, pode não ser apenas uma peça de roupa, mas um símbolo que conecta o indivíduo a um estilo de vida urbano, uma comunidade ou até mesmo a uma visão de mundo.
Assim, entender profundamente o público-alvo é mais do que uma pesquisa de mercado: é um mergulho antropológico nas histórias que eles estão narrando, nos personagens que interpretam e nos símbolos que escolhem para representá-los.
O consumo como ferramenta de construção identitária
Antropologicamente, o consumo sempre esteve ligado à construção de identidade, marcação de classe econômica e poder social. Objetos e práticas culturais que escolhemos integrar à nossa rotina dizem muito sobre quem somos — ou sobre quem queremos ser percebidos.
Em um mundo onde a autoexpressão ganhou palco principal nas redes sociais, essa relação se intensificou. Produtos e marcas passaram a desempenhar um papel ainda mais relevante na rotina, não apenas como utilidades, mas como peças que compõem narrativas.
O café da manhã clicado com o filtro perfeito, o tênis escolhido para aquela foto do “look do dia” ou o celular que aparece nas mãos durante um vídeo são escolhas estéticas e simbólicas que comunicam ao mundo a identidade que queremos construir.
Qual a diferença entre Storytelling x Storyselling?
Enquanto o storytelling é a arte de contar histórias para engajar, entreter ou inspirar, o storyselling tem como objetivo traduzir essas narrativas em vendas.
O storytelling conecta marcas e consumidores por meio de histórias que ressoam emocionalmente, enquanto o storyselling utiliza essas conexões para estimular uma ação — seja uma compra, assinatura ou engajamento com a marca.
A diferença está na intenção: no storytelling, a narrativa é construída com foco na criação de significado, enquanto no storyselling, é ajustada estrategicamente para persuadir e gerar conversão.
Uma marca que domina o storytelling constrói autoridade e vínculo emocional, enquanto o storyselling transforma essa relação em resultado prático. Para as marcas, saber equilibrar essas duas abordagens é essencial para não apenas ser relevante, mas também lucrativa.
Lembre-se: seu público sabe quando você só está contando uma história para vender seu produto. Você está apenas tentando forçar consumo ou está de fato ilustrando possíveis maneiras de uso no cotidiano?
Narrativas e as redes sociais
Nesse contexto, as redes sociais atuam como o grande palco onde essas histórias se desenrolam. A capacidade narrativa de um produto ou marca é, hoje, um dos maiores diferenciais competitivos.
São experiências compartilhadas que permitem que os espectadores se sintam parte do enredo. Da mesma forma, movimentos como a tendência de se vestir como se estivesse em um filme de Wes Anderson ou encenar interações ao vivo no estilo NPC (como avatares programados) revelam a força da narrativa coletiva e participativa.
Cada filtro de estilo AI ou vídeo viral é uma forma de transformar a vida cotidiana em um espetáculo narrativo.
Marcas que compreendem que desenvolver produtos que oferecem diversidade de uso, podendo ser consumidas de diferentes maneiras dependendo do lifestyle do usuário, se destaca por possibilitar relações que são co-criadas e não impostas.
Para as marcas, participar dessa sociedade narrativa é um desafio estratégico. Não basta mais comunicar; é necessário se integrar. Marcas precisam criar produtos, campanhas e experiências que sejam incorporados de forma natural às histórias do público.
Produtos que se tornam personagens, cenários ou gatilhos narrativos têm muito mais chance de gerar engajamento. Além disso, as marcas que entendem como suas narrativas podem influenciar ou complementar as histórias que as pessoas estão contando nas redes sociais são as que prosperam.
É nesse contexto que o branding se torna ainda mais essencial: ele vai ainda mais além da identidade sensorial. Ele se torna um ponto de partida para histórias que o consumidor ajudará a contar e a espalhar.
E essa realidade se apresenta como ponto irreversível, como afirma o comunicólogo, especialista em branding, Jeff Lira “Branding é verbo, portanto um investimento contínuo”.
Sociedade do storytelling
Como bem observado no Guia de Cultura 2024 da VICE, os consumidores, especialmente os jovens, não só consomem narrativas: eles as vivem e as co-criam. Hoje, nos desenhamos com filtros, nos filmamos como se estivéssemos em filmes e viralizamos interações que antes seriam consideradas ordinárias.
Essa sociedade do storytelling pessoal é também uma sociedade do espetáculo, onde tudo é hiperbólico e estético, mas também incrivelmente humano.
As marcas que desejam prosperar nesse cenário precisam não apenas oferecer produtos ou serviços, mas, sobretudo, ferramentas para que as pessoas continuem contando suas histórias, interpretando seus personagens e expandindo suas narrativas. No fim, não basta perguntar “o que minha marca oferece?” ou “qual é meu público?“. A pergunta-chave agora é: “Como minha marca pode fazer parte das histórias que as pessoas estão contando?“. E, talvez, essa seja a grande narrativa do branding no presente e no futuro.